Dono de um estilo resoluto e único, o CEO da Tailor Made, Carlos Alberto Simões Barreiro, transforma as
grandes lições sobre liderança num movimento contínuo de aprendizado e
execução.
Em entrevista concedida a área de Comunicação da Usina Santa Adélia
(USA), Barreiro que está à frente do programa
Liderança com Excelência, iniciado em fevereiro deste ano em nossa
empresa, fala da essência da liderança, dos pilares da gestão de excelência, da
responsabilidade do líder no processo de comunicação e de como extrair das
pessoas o melhor que há nelas.
Confira
a entrevista:
USA
– O que é liderança:
Barreiro
-
liderança é um processo pelo qual os líderes fazem com que seus times alcancem
os resultados e a busca da excelência de forma autossustentada. Nada mais é que
um conjunto de competências que a pessoas que exercem funções de chefia, cargos
de chefia, precisam ter. Nós temos pessoas em cargos de chefia, mas que não
exercem liderança. Liderança é quando falo de pessoas. Eu posso ter um chefe
excepcional, mas não posso considerá-lo um líder. Ele só será um líder, se
souber liderar pessoas. Somente àquele que consegue fazer com que as pessoas
atinjam os resultados e sigam as estratégias da organização, de forma natural,
pode ser chamado de líder.
USA
- Como exercer a liderança com excelência?
Barreiro
-
a
liderança deve buscar sempre a excelência da organização. Excelência é muito
mais profundo do que você falar em positividade, em produção, qualidade e
custo. Ou seja, a organização que busca a excelência, como é o caso da
Santa Adélia, que inclusive tem isso como um valor, deve executar tudo nesse
sentido. Você nunca chega a excelência, você busca a excelência. Essa
busca pela excelência, somente os verdadeiros líderes buscam porque a
excelência só é atingida através das pessoas.
USA
- Quais os principais pilares de um modelo de gestão, existe aquele ideal, o mais
correto?
Barreiro
-
o
que existe são modelos ou formas de gestão. Cada modelo traz um resultado
diferente. Se você pegar um modelo de gestão não participativo, ele pode até
trazer um resultado eficaz, de lucratividade...porém, nenhum modelo baseado
na autoridade se perpetua. O único modelo que se perpetua é o modelo da
excelência.
Toda
estratégia de uma organização deve estar calcada em três pilares: estratégia;
gestão de processos; gestão de pessoas. Você precisa de processos muito bem
elaboradores e definidos e, mais que isso, você tem que ter uma liderança que
faça a gestão de pessoas (quem faz a gestão de pessoas é a liderança e não o
RH). Posso ter uma organização eficiente que discute resultado por resultado.
Mas, nunca a equação que leva ao resultado.
Uma empresa com excelência discute como se chega ao resultado. Qual é a equação
que junta estratégia, processo e gente para se atingir o resultado excelente?
Se eu tenho uma estratégia conhecida por todos os níveis, depois tenho todos os
processos que vão executar essas estratégias e as pessoas adequadas, nos cargos
certos, eu tenho o trinômio que leva a excelência, não necessariamente ao
resultado. O resultado final virá, mas sempre baseado na equação que faz aquele
resultado acontecer. O modelo de execução é o que leva a organização a
excelência.
USA
– Qual a mudança de atitude necessária aos líderes da Santa Adélia?
Barreiro
-
a
liderança da Santa Adélia encontra-se num processo de capacitação. Aliás, a
empresa teve uma iniciativa muito corajosa e de muita consciência ao tomar a
decisão de formar as pessoas a partir da realização do Programa Liderança com
Excelência, sabendo que não encontraria profissionais prontos no mercado.
Muitas empresas não têm essa consciência. Esta fase consiste em trazer a
competência da liderança para os gestores. Agora, só se torna líder quem
quer. As pessoas que estão impregnadas por esse momento, a partir do estudo
e do envolvimento com o Programa, é que conseguem gerar uma mudança pessoal e
profissional. A mudança só acontece se cada um que passar pelo Programa
decidir que vai mudar. E pra isso, tem que sentir a dor mudança. Não existe
um movimento de mudança que você passa e diga que foi tranquilo. Se você sente
isso, é porque não está mudando. E pior, não jogou nada fora. Uma
das premissas da mudança é jogar coisas fora e ganhar outras. O caminho é
longo. Faço um alerta aqui ao medo. O medo paralisa! Tem gente que tem muito
medo do novo, então fica no velho. É preciso coragem pra fazer as coisas
diferentes.
USA
- Qual o principal perfil dos nossos líderes e como os colaboradores devem
lidar com esse modelo de liderança?
Barreiro
–
esse
é um ponto bastante interessante. Porque a responsabilidade da mudança numa organização
é 50% dos líderes em e os outros 50% dos liderados. E nesse movimento, o
que vemos muitas vezes é a resistência entre os liderados para a mudança. E
quando você tem a resistência do liderado, você dificulta a mudança do líder.
Mas pra isso não há fórmulas, o líder tem que trabalhar e avaliar caso a caso
para que a mudança aconteça em todos os níveis. E se for necessário, fazer os
ajustes nos times garantindo as pessoas adequadas para cargos certos.
USA
- Qual a importância da comunicação (face a face) nesse processo de mudança?
Barreiro
-
o
líder tem que aprender que 80% do tempo, ele deve fazer a comunicação face a
face com seu time, os outros 20% pode ser escrita, e-mail, telefone e etc. A
comunicação é o principal pilar da liderança. Não acho que o problema
das empresas seja a comunicação e sim os líderes, que não sabem gerir um modelo
de comunicação adequado. Claro, que os líderes precisam estar informados. A
comunicação é central. A empresa precisa ter políticas e processos bem
definidos nessa área e especialistas. Mas, dizer que alguém se tornou líder
sem cuidar da comunicação não existe. É uma pena porque não vejo muitos
gestores preocupados com isso. Desdobrar a informação para todos os níveis é
o papel do líder e não do setor de Comunicação da organização. A
empresa que busca a excelência deve ter um cuidado extremo com a comunicação. É desse processo que nasce a excelência. Se isso
não é cuidado, é muito difícil porque as pessoas sem informação não conseguem
ir pra lugar algum, não se movem. Tem organizações que o desdobramento da
informação é prioridade. O líder vai até o nível operacional dizer: – “Olha,
a estratégia é essa...”. E é isso que esperamos dos nossos líderes. Esse
é o grande desafio da Santa Adélia
USA - Como um líder deve lidar com conflitos?
Barreiro - conflito é algo natural, que não é bom e nem ruim.
Diferentes formas de pensar é o que denominamos de conflito. O
líder precisa administrar esse conflito, negociar, trazer desse momento uma
sinergia de ganho para todas as partes. Se você não fez isso, você não fez o seu trabalho.
Não importa quem você seja. O presidente de uma empresa ou de um sindicado. Se
você deixou a sua base perder, você não soube fazer a negociação. Não é o que
eu ganho, é o que eu perdi.
USA - Para aqueles que estão no
grupo de talentos qual o seu conselho?
Barreiro
–
o
nosso grupo de talentos ainda está muito preso ao conhecimento técnico. Quem se
torna um bom líder? Só quem foi um bom liderado. Os nossos talentos precisam
acreditar mais neles e isso é muito difícil. Deixar aquilo que você sabe para
aquilo que você não sabe é muito novo. O interessante é que a Santa Adélia está
dando uma oportunidade de ouro para esse grupo de profissionais. Ela não está
dizendo: - “Corra o risco sem conhecimento”. E sim: - “Corra o risco com
conhecimento. Estou te respaldando. Se você errar pra fazer o certo, estou aqui
para apoia-lo”. Essa é uma questão muita clara na diretoria da Santa Adélia.
Eles não querem o certo, eles querem o esforço e a mudança. Temos vários
casos de sucesso absoluto nesses quatro primeiros módulos do programa.
Podem ser pequenos, mas são sucessos. Não tem o grande sucesso numa
organização. Tem o sucesso individual de cada um.
USA
- Qual o desafio do líder recém-promovido?
Barreiro
-
o
principal conselho é o pior de todos: jogar fora a carreira técnica e
começar a carreira humana. A pessoa assume a posição de liderança por todo um
conhecimento técnico, por uma entrega técnica e quando vai à liderança, o que
importa são as pessoas. Ele precisa fazer com que as pessoas que trabalham com
ele saibam mais que ele. Esse é um desafio imenso, não é um conselho na
verdade, é uma indicação. Se o líder ainda acha que precisa saber mais que o
seu liderado, jamais ele irá exercer a liderança.
USA
- O mercado valoriza quem sabe liderar?
Barreiro
-
o mercado paga 4 ou até mesmo 5 vezes mais para quem sabe liderar. O problema é
que não tem essas pessoas no mercado. Poucas empresas no Brasil, eu diria que
não chega a 2%, preparam seus líderes. Portanto, a escassez do mercado é
infinita. E essa escassez é fruto do Sistema Educacional que nunca proveu e
dificilmente vai mudar se os governantes não mudarem.
Barreiro
é formado em Pedagogia,
com especialização em Andragogia e Psicossociologia e é especialista na
formação de Líderes e Gestores Estratégicos.